Era feliz. Mais do que estar feliz, ela era feliz. Feliz por estar e ser viva. Principalmente por (poder)ter como mudar tudo isso. Isso de viver apenas por ter nascido ela tinha domínio. Tinha a liberdade de decidir sobre a própria vida e o fim dela.
Amava a liberdade de viver e de morrer, se assim o quisesse.
Era feliz por poder controlar sua vida como se possuísse a si mesma. Assim como se muda de canal, ou quando se assisti a um filme na TV, ela controlava intimamente as suas experiências, mesmo as que ainda estavam para ser vividas. Play, scan para adiantar ou retroceder, ou skip para ir à cena passada ou a seguir. Pausa para segurar as emoções e descarregá-las no banheiro. Volume baixo para momentos íntimos e alto para a ouvirem melhor e melhor se fazer entender. Era esse o menu do seu autocontrole.
Era feliz da vida por poder, se quisesse, suicidar-se quando essa felicidade se tornasse insuportável, ou não. Não devia nada a ninguém, muito menos a (à) sua vida e satisfações dela aos outros. A autonomia para deflagrar grandes ou pequenas experiências felizes era a mesma para dar a elas um fim, feliz.
Suicídio, ou a simples possibilidade em cometê-lo, era o seu curinga na manga. Sem mágoas.
Sergio Janma
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