Minha filha com seus três anos e oito
meses já não quer mais dormir de fraldas, diz “já sou menina”. Mas às vezes sua
bexiga lhe trai essa vontade de ser grande pela vontade (incontrolável!) de urinar. Na noite passada foi assim. Fomos dormir em minha cama e após uma hora
de tranquilo sono, Morgana teve um sonho molhado. Ela não acordou, acordei eu
pelo encharcado lençol de baixo. Enquanto minha filha dormia, troquei-lhe a
roupa molhada e mal cheirosa por outra limpa e cheirando a amaciante. Para não acorda-la, coloquei
outro lençol por cima do que estava mijado e voltei a deitar ao seu lado.
Sua
carinha linda dormindo em um sono profundo foi minha compensação. Pensei que o ocorrido também me faz feliz. Somos felizes por sermos só nós dois, juntos no aqui e agora, sobre
lençóis mijados.
Não me aborreço
com minha filha por estar deitado sobre sua urina secando ao calor da noite e, tampouco,
com o aumento do cheiro peculiar da ureia. Morgana só tem três anos e oito
meses e todos os direitos. Ela me faz feliz incondicionalmente. Mostra o quanto
me ama ao exigir de mim presença constante.
Enquanto olhava minha
filha, admirado por tanta beleza e inocência, lembrei-me de um poema meu, antigo,
que escrevi na primeira página da agenda daquele ano de muitos passados. Não
lembro textualmente desse poema. Vagamente lembro que tomei o ano que mudava o
calendário como se fosse um bebê recém-nascido e os champanhes em comemoração
ao seu nascimento era o que molhavam suas fraldas.
A simples
mudança de calendário pode servir de sugestão para mudarmos também o tempo
dentro de nós. Se não podemos mais voltar ao tempo de crianças, quem sabe se
não conseguimos resgatar o olhar delas? Matarmos o que já está velho em nós e
deixarmos aflorar o novo. Afinal, não só morrem os anos velhos para nascerem os
novos, em nós também a vida como a morte é só renovação na mesma
constância.
Enquanto o tempo
passa fazendo o passado ficar marcado em nossos corpos e almas, provocando o
futuro com um presente efêmero, por minha vez fico neste tempo de Morgana que
nem tá aí se há ou não viradas de anos... sua virada é a de me virar neste pai
bobo. Minha filha me virou em um apaixonado pela vida que ela me faz viver.
Sérgio Janma – a
poucas horas de 2013
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