"Leia como quem beija, beije como quem escreve"
(Maxwell F. Dantas)

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Morgana Mijou na Cama; Meu Feliz Ano Novo


        

           Minha filha com seus três anos e oito meses já não quer mais dormir de fraldas, diz “já sou menina”. Mas às vezes sua bexiga lhe trai essa vontade de ser grande pela vontade (incontrolável!) de urinar. Na noite passada foi assim. Fomos dormir em minha cama e após uma hora de tranquilo sono, Morgana teve um sonho molhado. Ela não acordou, acordei eu pelo encharcado lençol de baixo. Enquanto minha filha dormia, troquei-lhe a roupa molhada e mal cheirosa por outra limpa e cheirando a amaciante. Para não acorda-la, coloquei outro lençol por cima do que estava mijado e voltei a deitar ao seu lado.
 Sua carinha linda dormindo em um sono profundo foi minha compensação. Pensei que o ocorrido também me faz feliz. Somos felizes por sermos só nós dois, juntos no aqui e agora, sobre lençóis mijados.
Não me aborreço com minha filha por estar deitado sobre sua urina secando ao calor da noite e, tampouco, com o aumento do cheiro peculiar da ureia. Morgana só tem três anos e oito meses e todos os direitos. Ela me faz feliz incondicionalmente. Mostra o quanto me ama ao exigir de mim presença constante.
Enquanto olhava minha filha, admirado por tanta beleza e inocência, lembrei-me de um poema meu, antigo, que escrevi na primeira página da agenda daquele ano de muitos passados. Não lembro textualmente desse poema. Vagamente lembro que tomei o ano que mudava o calendário como se fosse um bebê recém-nascido e os champanhes em comemoração ao seu nascimento era o que molhavam suas fraldas.
A simples mudança de calendário pode servir de sugestão para mudarmos também o tempo dentro de nós. Se não podemos mais voltar ao tempo de crianças, quem sabe se não conseguimos resgatar o olhar delas? Matarmos o que já está velho em nós e deixarmos aflorar o novo. Afinal, não só morrem os anos velhos para nascerem os novos, em nós também a vida como a morte é só renovação na mesma constância.
Enquanto o tempo passa fazendo o passado ficar marcado em nossos corpos e almas, provocando o futuro com um presente efêmero, por minha vez fico neste tempo de Morgana que nem tá aí se há ou não viradas de anos... sua virada é a de me virar neste pai bobo. Minha filha me virou em um apaixonado pela vida que ela me faz viver.

Sérgio Janma – a poucas horas de 2013

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