"Leia como quem beija, beije como quem escreve"
(Maxwell F. Dantas)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O medo e a falta


Você me faz medo,
mas você me faz falta.

A diferença entre o medo e a falta
é que o medo você sabe quando tem,
e na falta você sente que não tem.

A falta, com o medo, sobressalta.
Entre o medo que você me traz
e a falta que você me faz,

você é o medo que me falta.

(Ronaldo Cunha Lima)

Calle 13

União perfeita de poesia e música, narrando a luta latino-americana. A voz de quem canta em português é de Maria Rita.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

AMOR- (Lia Luft)

A solidão dos homens tem a medida da solidão de suas mulheres. O casal 
perfeito seria o que sabe aceitar a solidão inevitável do ser humano, sem 
se sentir isolado do parceiro ou sem se isolar dele. 
Talvez se possa começar por aí: não correr para o casamento, o 
namoro,o amante (não importa) imaginando que agora serão solucionados ou 
suavizados todos os problemas como a chatice da casa dos pais, ver as amigas 
ou amigos casando e tendo filhos, a mesmice do emprego, chegar sozinho às 
festas e sexo difícil e sem afeto. 
Não cair nos braços do outro como quem cai na armadilha do "enfim nunca mais 
só!", porque aí é que a coisa começa a ferver. 
Conviver é enfrentar o pior dos inimigos, o insidioso, o silencioso, o 
sempre à espreita, incansável: o tédio, o desencanto, esse inimigo de 
dois rostos. 
Passada a primeira fase de paixão (desculpem, mas ela passa, o que não 
significa tédio nem fim de atração), começamos a amar de outro jeito. 
Ou a amar melhor; ou, aí é que começamos a amar. A querer bem; a apreciar;a 
respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir a falta; a conceder espaço; a 
querer que o outro cresça e não fique grudado na gente. 
O cotidiano baixa sobre qualquer relação e qualquer vida, com a poeira do 
desencanto e do cansaço, do tédio. A conta a pagar, a empregada que não 
Veio, alguém na família doente ou problemático, a mãe ou o pai deprimido ou 
simplesmente o emprego sem graça e o patrão de mau humor. 
E explodimos, queremos morrer, quando cai aquela última gota, pode ser uma 
trivialíssima gota - ai nos damos conta: nada mais é como era no começo. 
Nada foi como eu esperava. Não sei se quero continuar assim, mas tambémnão 
sei o que fazer. 
Como não desistimos facilmente porque afinal somos guerreiros ou nem 
estaríamos mais aqui, e também porque há os compromissos, a casa, a 
grana e até ainda o afeto, é preciso inventar um jeito de recomeçar, 
reconstruir. Na verdade devia-se reconstruir todos os dias. Usar da 
criatividade 
numa relação. O problema é que, quando se fala em criatividade numa relação, 
a maioria pensa logo em inovações no sexo, mas transar é o resultado, 
não o meio. 
Um amigo disse no aniversário de sua mulher uma das coisas mais belas 
que ouvi: "Todos os dias de nosso casamento (de uns 40 anos), eu te escolhi 
de novo como minha mulher". 
Mas primeiro teríamos de nos escolher a nós mesmos diariamente. Ao 
menos e vez em quando sentar na cama ao acordar, pensar: como anda a minha 
vida? 
Quero continuar vivendo assim? Se não quero, o que posso fazer para 
melhorar? Quase sempre há coisas a melhorar, e quase sempre podem ser 
melhoradas. 
Ainda que seja algo bem simples; ainda que seja mais complicado, como 
realizar o velho sonho de estudar, de abrir uma loja, de fazer uma viagem, 
de mudar de profissão. 
Nós nos permitimos muito pouco em matéria de felicidade, alegria, realização 
e sobretudo abertura com o outro. 
É difícil? É difícil. 
É duro? É duro. Cada dia, levantar e escovar os dentes já é um ato heróico, 
dizia Hélio Pellegrino. 
Viver é um heroísmo, viver bem um amor, mais ainda. 
O casal perfeito talvez seja aquele que não desiste de correr atrás do sonho 
e da certeza de que, apesar dos pesares, nós, a cada dia, nos escolheríamos 
novamente!!! 

Minha mente é uma mentira

... e agirei com destreza de um lenhador
rachando meu crânio a machado.
Abrindo 
em ritual pagão macabro
minhas idéias iluminadas de morte,
conforme seu mistério sagrado. 

Sem razão aparente
rastrearei pelo fio 
da minha mente
(que de tantas idas e vindas
perdeu-se dentro do labirinto cérebro latente)
intuindo encontrar perdidos
no arquivo morto 
das memórias vivas 
sentimentos frustrados por desejos ressentidos

Pensamentos, 
em desconcentrado frenesi,
não conseguem interpretar 
meu ato auto-investigativo:
“isso não é do meu temperamento...”
“se bem...”, 
pensam alguns pensamentos,
“sou imaginativo em atrevimentos”.

A linguagem dos anestesiados sentidos,
fraturados e desconexos,
vem pela onda cerebral desperta 
(em palavras não ditas e incertas),
inundada no batismo 
do mar de sangue,
morrendo à beira da boca
inutilmente
aberta 
pra sempre.

Sérgio Janma – fev.2012