"Leia como quem beija, beije como quem escreve"
(Maxwell F. Dantas)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Reverso do meu mal


"Minha alma, cidade das greves sangrentas”.
(Mário de Andrade)

Ruínas de purezas.
Ilha do silêncio.
Labirintos da saudade
com aroma de Sagitário:
almíscar.

Alma:
capital da vida
recortada do pálido mapa de carne,
ossos e sangue-anêmico-rio.
Balbuciar da alma
corporificada na nudez fria,
dançando desesperanças.
Vivificação da morte
de todas as raças de almas,
deitadas sobre o mundo
de um jazz metálico
afinado com os trovões.

Canto da alma
prisioneira nos quatro cantos
da procissão de angústias gasosas...
tecendo mortes em orgasmos artesanais,
feito nuvens sobre minha loucura.
Alma de epiderme alérgica
com cheiro de suor.

Vale de olhos assombrados
pelo olhar que corta a vida.
Olheiras do desespero
vendo o dia ser queimado na caçada da morte.
Covas rasas.
Delírios...
dores escuras oscilando tonturas:
ébrio equilíbrio.
Ideais calados pela febre das flores ásperas,
enfeitando e vestindo de morte
meu estado de espírito
em estado de coma.

“... um tempo de horror mais fecundo."
(Mário de Andrade)

Neste leque de podridão,
saiu por todos orifícios de meu corpo
o vomitar do castigo imposto
pelos deuses-das-lendas-antigas.
Torneando a curva mais fechada da emoção.
Tangente.
Talhada.

Voltando-se sol rebelde
a jantar na noite calores silenciosos...
Primavera trazendo
o cheiro dos fetos
de almas envelhecidas
que nascerão paridas no silêncio das profecias.

Mastigando os vazios da noite,
encaro meu luto nos espelhos,
revidando com a luz do meu avesso.
Lavando o sangue das condensadas mortes,
excessivamente eternas,
que na escuridão um dia sorriram o mal. 

Sérgio Janma



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