"Leia como quem beija, beije como quem escreve"
(Maxwell F. Dantas)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Passagem


Faltam-me todas as vísceras.
Corpo sem sangue.
Seco.
Por sucção o nariz expele
meus miolos.

Abro a boca:
mostro minha fome
            cariada
            carente.
E a sede espumando
            saliva
            salgada.

Quero o Raio
adubando meu corpo.
Energia
abrindo meu crânio
nesta cabeça nua e
seca.
Terra árida raspada
onde semente se vinga.

Sinto a vida
assobiar seu sopro quente
em meus neurônios.
Vapor baforando da terra
            queimada
            molhada
pelas tempestades apocalípticas.

Volto-me ao Ocidente
engolidor do fogo do Sol,
(insistente em nascer todos os dias).
Ulisses em mim
            encarnado
            encarando
minha viagem noturna
na Barca da Morte
guiada por rezas
            e regras. 

Sérgio Janma



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