"Leia como quem beija, beije como quem escreve"
(Maxwell F. Dantas)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Marinha




Cargueiro içado em alto mar.
Veleiro velado.
Silêncio andando devagar. 
Lentidão vazia.
Esperança vinda do porto...

Não há mais o cantar dos grãos.
Velho cargueiro
transportando o peso morto
de seu morto produto.
Sacas legitimadas?
Sacas clandestinas?
Pesadas.
Mortos grãos vomitados pelos fardos.
Gritos oleosos.
Fumo pesado e fantasma dos grãos queimados.
Incerteza no aroma volátil.
Alimento dos vivos
da degradativa função orgânica.
Progressiva-função-processada
progressivamente...
até chegar ao nada.
Função desativada
                         naturalmente
chegando ao fim.

Cargueiro içado em alto mar.
Velas arriadas.
Paradas.
Veladas sobre águas inseguras.
Gargalhada e choro do mar  
                          em sinfonia
como uma corrupção que se aplaude sem advertência. 
No cérebro do Oceano
a massa líquida ardendo em fogo.

Velas deformadas pelo vento
passando a galopes marítimos.
Indo-se.
Velas sem os açoites do insano vento
e os sopros da tempestade embriagadora e
embriagada.
Choro em silêncio.
Inerte produto final.

Sérgio Janma

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